São 19:55m e não dá para acreditar que há menos de uma hora atrás vimos como a morte pode estar muito mais próxima do que imaginamos. Quando meu marido e minha filha espantados voltaram da nossa varanda, exclamando que um carro havia acabado de cair no rio, que fica em frente a nossa casa, percebi que tinhamos problemas. Uma vez que esse rio que serve de canal para o esgoto de várias casas, já tende a ser perigoso, imagine numa noite como está, no qual caía um forte temporal.
Sem pensar duaz vezes, dando apenas um segundo para desligar o fogo das panelas (dona de casa sempre), desci as escadas descalça com meu amado em meu encalço. Vimos que os faróis do carro continuavam ligados e que uma mulher estava sentada no branco do carona com a porta aberta sendo arrastada pela correnteza, é indescritível expressar com palavras o sentimento de pânico e ansiedade, porém é preciso.
A única coisa que fizemos por alguns segundos foi acompanhar o veículo e alertar os vizinhos e pedestres que chamassem a polícia ou algo que valhesse, porém vi que algo rápido teria que ser feito e sem pensar duas vezes gritei que a mulher saísse do carro imediatamente, ela relutou, como que apesar da ameaça iminente que aquele objeto representava, era também sua salvação. Obedeceu, e ao alcançar a lateral do valão, como providência divina, conseguiu segurar-se em um pé de goiaba e ali continuou seu drama.
Aquela altura já não eramos dois na agonia, mas dezenas de pessoas, e enquanto Allan (meu herói) e os outros providenciavam escada e corda, porque o resgate oficial ainda não havia chegado, perguntei seu nome. Marlene, nunca esquecerei seu nome, seu corpo pequeno, porém forte, segurando com todas as sua forças aqueles galhos. Não parei em nenhum momento de incentivá-la a não desistir, a ter forças, que ela venceria, mesmo vendo as águas subirem a cada segundo, a escada não conseguindo apoiar-se no fundo, mesmo diante de uma tragédia, gritei seu nome o tempo todo, era o que tinha.
Por fim como um milagre concluído, Marlene conseguiu colocar as corda em sua cintura e os heróis anônimos, homens sem distintivos e patentes, a salvaram, deixando-a em terra firme. Todos os torcedores vibraram, aplaudindo o sucesso da aventura. Quais foram as palavras da heroína que apesar do choque parecia forte como nunca? "Preciso buscar meu filho na explicadora" "Preciso ligar para o meu marido". É! Mulheres guerreiras! Mães de verdade! O que dizer depois disso tudo? Conclua você mesmo, querido leitor. Para mim fico com minhas reflexões sobre o mistério encantador que envolve nós seres humanos, tão egocêntricos em nós mesmos, mas tão estranhamente solidários e encantadores.
PS. Os bombeiros? Chegaram uns vinte minutos depois. Só que o mérito dessa vez não ficou com eles.
Aurelian Vieira